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outubro 2, 2024
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Design urbano queer: planejamento para cidades inclusivas

As teorias em evolução do design urbano buscam reformular como as cidades são construídas e vivenciadas. Com uma crescente empatia em relação às necessidades de diversos grupos, o design urbano queer representa uma mudança abrangente e holística na compreensão da identidade e da comunidade nos espaços públicos. Essa abordagem desafia os métodos tradicionais – que costumam ser rígidos – de planejamento urbano ao aplicar os princípios da teoria queer, que valoriza a fluidez e a interconexão. Em comemoração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+ de 2024, o ArchDaily explora os fundamentos do “design urbano queer” para influenciar práticas mais inclusivas no planejamento das cidades.

O design urbano queer tem como foco principal criar espaços seguros e inclusivos para as comunidades LGBTQIA+. Ele promove uma visão mais abrangente de cidades adaptáveis que possam acolher diversas experiências humanas. Em muitos casos, o design urbano queer representa uma recusa à ideia de uma ordem predefinida no campo, destacando a cidade como um ecossistema dinâmico que abraça a diversidade e a interconexão.

É essencial reconhecer que nem todos têm acesso pleno aos espaços públicos. Uma pesquisa de 2019 revelou que 50% do público britânico percebe que pessoas LGBTQIA+ frequentemente modificam sua apresentação em locais públicos para evitar discriminação. Mais preocupante ainda, alguns indivíduos, especialmente os transgêneros, evitam completamente certas áreas por questões de segurança. Essa vulnerabilidade não se restringe à comunidade LGBTQIA+, afetando também diversos grupos minoritários, como pessoas com deficiência, minorias religiosas e étnicas.

Apesar do surgimento de bairros queer ou “gayborhoods” em muitas cidades cosmopolitas desde os anos 1950, há uma urgente necessidade de repensar os espaços públicos de forma mais abrangente. Embora áreas como Soho em Londres ou o Gay Village em Manchester tenham proporcionado refúgios seguros para a expressão LGBTQIA+, muitos ainda se sentem obrigados a ocultar ou ajustar suas identidades fora desses bairros. Além disso, a gentrificação e a renovação urbana ameaçam esses espaços queer estabelecidos, muitas vezes tornando-os inacessíveis para as comunidades que os originaram.

Para enfrentar esses desafios, os designers urbanos precisam ir além da preservação dos lugares queer existentes e trabalhar para incorporar considerações de inclusão e segurança LGBTQIA+ em todos os espaços públicos. Isso envolve o uso de ferramentas como avaliações de impacto na igualdade e a consulta ativa a grupos LGBTQIA+ durante o processo de planejamento. Além disso, preservar o patrimônio queer é crucial. Isso pode ser alcançado incentivando as comunidades locais LGBTQIA+ a marcar seu patrimônio nos espaços públicos, permitindo que novas camadas de memória e significado surjam de forma orgânica.

As práticas de design inclusivo devem ser atualizadas para abordar não apenas questões de acesso e mobilidade, mas também considerar a pobreza, a privação e as experiências vividas por grupos marginalizados. Esse enfoque pode ser fortalecido ao incentivar empresas sociais a administrar negócios essenciais de forma sustentável e ao proporcionar oportunidades para desenvolvimento orgânico por meio de mecanismos como a Taxa de Infraestrutura Comunitária.

Embora o design urbano queer ofereça possibilidades para criar cidades mais inclusivas, é crucial reconhecer que essa abordagem precisa ser interseccional para ser verdadeiramente eficaz. Indivíduos queer trans e BIPOC enfrentam múltiplas camadas de discriminação e barreiras que seus colegas cis não enfrentam. Como aponta Wyatt Gordon, “Mesmo dentro dos círculos urbanistas queer, há uma tendência de focar em preocupações compartilhadas como dependência de carro e heteronormatividade, enquanto ignoramos como as desigualdades sistêmicas de racismo, sexismo e transfobia persistem em nosso campo.”

Para os urbanistas e designers que buscam incorporar o urbanismo queer em suas práticas, James Rojas sugere começar envolvendo pessoas queer de diversas identidades em todas as etapas do planejamento. Isso inclui contratar planejadores queer, consultá-los em projetos e colocar suas vozes no centro das discussões comunitárias. Também é importante desafiar os pressupostos heteronormativos nas plantas, criar espaços flexíveis que atendam a diferentes necessidades e perguntar diretamente aos indivíduos queer o que os faria se sentir confortáveis em um ambiente urbano.

Ao enfatizar o planejamento colaborativo, abre-se espaço para soluções inovadoras. Abordagens tradicionais e centralizadas podem não considerar adequadamente as necessidades específicas de comunidades diversas. Envolvendo os moradores no processo de design, os planejadores podem identificar a demanda por espaços públicos que atendam a práticas culturais únicas ou encontros sociais essenciais para grupos específicos.

O urbanismo queer vai além da mera funcionalidade. Ele questiona a ideia de que as cidades existem apenas para serem eficientes e gerarem lucro. Em vez disso, promove a ideia de espaços urbanos que alimentam o espírito humano em todas as suas dimensões. Isso pode incluir a criação de praças que incentivam interações espontâneas e exploração lúdica, mesmo que essas atividades não tragam um benefício econômico direto.

O objetivo do urbanismo queer não é apenas criar espaços exclusivos para pessoas queer, mas tornar todos os espaços públicos mais inclusivos. O verdadeiro sucesso é alcançado quando as pessoas se sentem à vontade para se mostrar abertamente em público, seja através de roupas, linguagem ou demonstrações de afeto. Essa visibilidade cria um ciclo positivo, aumentando a representação e o conforto para todos. O design urbano queer facilita a democratização do design ao envolver diretamente a produção social do espaço.

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